segunda-feira, 7 de março de 2011

TIO BONMEE, QUE PODE RECORDAR SUAS VIDAS PASSADAS.


Dando vazão a minha paixão por filmes, resolvi ver neste feriadão prolongado alguns filmes, dentre eles, o ganhador do festival de Cannes 2010: Tio Bonmee, que pode recordar suas vidas passadas, de Apichatpong Weeresethakul.

O curioso é que por ter ganhado a palma de ouro em um dos principais festivais de cinema do mundo, o filme foi super bem recebido pela crítica especializada brasileira. Mas aí eu lanço uma pergunta: Será que entenderam? Será que as pessoas que dizem que gostaram entenderam? Ou apenas estão seguindo os especialistas?

O enredo em si não traz nada de complicado. Tio Bonmee tem uma doença renal e muda para a floresta com sua irmã, enquanto espera a morte ou a cura. Vai saber. O grande problema é que as cenas se arrastam em diálogos intermináveis, muitas vezes nonsense para um público ocidental.

Não estou dizendo que o filme seja sem sentido, talvez tenha significados até demais. Muitas camadas de significado. Temos que levar em conta que o diretor é tailandês, e talvez haja muito da cultura e folclore tailandês ali presentes, obscuros para nós que não somos muito familiarizados com o cinema asiático, a não ser os mais clássicos, como os japoneses, chineses e iranianos.

O filme é estranho. Pode ser que a estranheza presente no filme é o que torne para lá de "artístico". O ritmo é lento, beira mesmo à chatice. É enfadonho. Não à toa, muitos estavam a bocejar ou cochilar na sessão. Se eu estivesse cansado acabaria dormindo também.

Há cenas inexplicáveis. Ou explicáveis para quem entenda de cultura tailandesa.

Só para citar algumas, durante um jantar o espírito da esposa de Tio Bonmee aparece à mesa, e em seguida o filho dele desaparecido há seis anos, transformado em macaco-fantasma porque copulou com outro macaco-fantasma.

Uma cena linda, mas para lá de surreal é uma princesa conversando com um bagre. E depois, esse bagre deflorando a princesa, de modo a tingir o lindo cenário de cachoeiras de um vermelho vivo nas águas. Ou ainda, a cena em que um monge sai para jantar e vê seu corpo assistindo a televisão.

Não sei se esse filme tem uma explicação lógica, ou se só deve servir como uma experiência sensorial por conta das fotografias belíssimas de cada cena.

Um amigo em comum disse que eu não gostaria do filme... e que era melhor eu não ir ver. Mas fui. Achei chato, e por mais paradoxal que possa parecer... tenho vontade de ver novamente, para tentar pegar detalhes que possam ter me escapado.

Mas o começo do filme já é uma prévia do que teremos uma narrativa lenta pela frente. Um boi amarrado à uma árvore e que foge até ser capturado.

Os mais corajosos ficam até o fim. E mesmo que achem enfadonho o filme, resistam. Não saiam no meio da sessão...

Talvez a experiência cinematográfica em vocês façam muito mais sentido que em mim.

E se o assunto às vezes falta no filme, e a gente dispersa com outros pensamentos durante a sessão... a fotografia que passa diante das nossas retinas é deslumbrante.

Afinal, gostei? Não gostei? Nem eu sei, pois não considero o meu aborrecimento, a chatice que senti ao ver o filme como sinônimo de um filme ruim. Talvez minha mente não estivesse mais apta para refletir, pois já tinha visto dois filmes antes, o blockbuster 127horas, e o excelente Incêndios.

Quem sabe Tio Bonmee não reprise na mostra cinesesc em Abril, ou em alguma outra mostra e eu tenha a oportunidade de lançar um segundo olhar? Um olhar mais apurado e menos viciado?


Juliano Vieira






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