sábado, 12 de fevereiro de 2011

CISNE NEGRO


Dos dez filmes que concorrem ao oscar 2011, só vi quatro deles, mas isso não me impedirá de torcer ardorosamente pelas categorias de melhor filme e melhor atriz. O filme em questão é Cisne Negro, e a atriz, Natalie Portman, atriz que há muito tempo já venho acompanhando a carreira, em filmes como Em qualquer outro lugar, Free Zone, Entre Irmãos, A outra, Um beijo roubado, Viagem a Darjeeling. Closer e notado sua evolução como intérprete e sua transformação numa grande atriz. A própria Natalie já declarou em entrevistas que não aceita fazer qualquer papel, e que analisa muito bem todas as propostas antes de assinar para algum filme.


No caso do filme Cisne Negro, a entrega de Natalie para a composição da personagem, uma dedicada bailarina de uma companhia de dança, beira à obsessão, ainda mais se formos levar em conta as aulas de balé que fez para aprimorar seus passos, a seriedade com que frequentava os sets de filmagens, se isolando num canto, e só se relacionando com outros atores durante os momentos de filmagens, como se estivesse de fato a incorporar a perturbada bailarina.


O filme, de um modo geral, nos mostra como uma artista em busca da perfeição se dedica de corpo e alma à arte e como tal dedicação pode influenciar negativamente na construção de determinados personagens.


A vida da bailarina Nina Sayers parece normal até o momento em que o diretor de arte, Thomas, da companhia de balé na qual trabalha resolve levar ao palco uma nova temporada do balé O lago dos Cisnes, com uma versão atualizada, em que uma mesma dançarina deverá representar o cisne branco, que representa a pureza, e também o seu lado obscuro e impulsivo, o cisne negro.


Aproveitando a aposentadoria forçada da principal estrela da companhia de balé, Beth, interpretada por Winona Ryder, Nina pleiteia o papel principal e se julga capaz de interpretá-lo, justamente por ser uma artista obstinada e que está o tempo todo ensaiando para melhorar suas performances. No entanto, Thomas acha que ela é capaz apenas de dar vida ao Cisne Branco, por ser uma menina meiga, frágil, doce e duvida de sua capacidade de interpretar o Cisne Negro, com todas as suas impulsões destrutivas.


Com receio de perder o papel, Nina, começa a ter alucinações, delírios, e passa a ter atitudes extremamente paranóicas, sobretudo quando chega uma nova bailarina na companhia, que ela pensa que quer tomar o seu lugar de estrela. Lily, a nova bailarina servirá também como um escape sexual, visto que Nina apresenta uma sexualidade reprimida. O interessante é que, nós espectadores, praticamente não sabemos quais são os momentos de lucidez ou de delírios da personagem.


Para completar, a mente de Nina é cada vez mais afetada também pela superproteção da mãe (Barbara Hershey), uma bailarina frustrada que teve de abandonar a carreira para se dedicar à maternidade.


Em certos momentos, o filme lembra os trillers psicológicos e chegamos mesmo a nos assustar, principalmente com a transformação degradante de Nina em um cisne, marcadas pelas passagens em que ela dilacera a própria pele repleta de feridas ou com os seus dedos grudando uns nos outros.


É de bom tom ressaltar que Natalie Portman não brilha sozinha neste filme, os atores que as circundam também estão perfeitos. Vincent Cassel como o diretor de arte que busca não a perfeição e a técnica da dança mas a dança por paixão e instinto, de modo que soa o tempo todo arrogante por cutucar o excesso de primor em suas dançarinas. Em relação ao fato de ele se envolver com elas, poderiam ser levantadas algumas questões. Seria este envolvimento por amor à arte, para que suas aspirantes a estrelas vivam uma paixão arrebatadora e leve este impulso ao palco ou apenas para se aproveitar de artistas frágeis e debilitadas por tantos ensaios.


Mila Kunis também poderia ser indicada por uma performance de coadjuvante, pois nos poucos momentos em que aparece em cena, é uma perfeita antagonista de Nina. O que esta tem de destrutiva e amargurada, aquela tem de alegria e espontaneidade e é uma constante ameaça à Nina.


Cisne Negro é o coroamento de um filme que tinha tudo para passar apenas em circuitos alternativos, mas que devido à indicação ao oscar está sendo exibido em salas mais comerciais, propiciando a um tipo de público não acostumado a filmes ditos de "arte" a terem contato com uma grande obra, e perceberem que ela não é nenhum bicho de sete cabeças, basta entrar no jogo, e viajar na mente esquizofrênica da personagem.

Um comentário:

  1. Poderia dizer que em determinado momento do filme a gente não consegue diferenciar o que é real do que é imaginação da personagem Nina. Achei o filme complexo justamente porque não consigo diferenciar o que é real e imaginário, até agora fico tentando diferenciar. Um filme muito bom...

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