sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

DOZE HOMENS E UMA SENTENÇA



A peça DOZE HOMENS E UMA SENTENÇA, ganhadora do prêmio APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) de melhor espetáculo do ano de 2010 continua em cartaz no CCBB (Centro Cultural do Banco do Brasil) até o dia 6 de fevereiro.

A peça chama a atenção não somente por ser a adaptação de um clássico homônimo do cinema, dirigido por Sidney Lumet, mas pelo excesso de personagens no palco. São 12 atores a interpretar os doze jurados que precisam dar uma sentença unânime para que um garoto acusado de matar o próprio pai seja levado à cadeira elétrica.

Interessante notar que todos os atores têm seus momentos de destaque, e nenhum deles tem acesso de estrelismo tão sintonizados estão com a trama, o que vale dizer que os intérpretes vestem tão bem a pele das personagens que o resultado é o de uma verdadeira orquestra sob a batuta do regente diretor Eduardo Tolentino de Araujo, do Grupo Tapa.

A direção é tão bem conduzida que a despeito do excessivo número de personagens em cena, a vista dos espectadores não se cansa, pois tudo no palco é bem distribuído e organizado, sem poluição visual, e o olhar do espectador sempre se voltará para as ações mais intensas dos personagens, e este olhar, às vezes, poderá desviar-se do foco para reparar em outras pequenas reações ou momentos de outros personagens.

Doze homens e uma sentença é uma peça que prima pela palavra, é um exercício de argumentação, persuasão, convencimento do outro, já que doze jurados estão trancados numa sala para decidir o destino de um jovem que deverá ser condenado à morte. O exercício de retórica começa justamente quando um dos jurados, o jurado n.8 (eles não apresentam nomes, são apenas números e descobrimos suas posições sociais à medida que a peça vai avançando) diz ser contrário à pena de morte por não ter certeza da culpa do garoto, ou na linguagem empregada por ele, uma dúvida razoável da culpabilidade, sendo assim, não poderá mandar ninguém à morte.

A partir daí, as palavras e as posições sociais de quem as proferem terão um peso enorme no veredicto final. O primeiro a mudar de opinião sobre o veredicto é o jurado n.9, vivido por José Renato, o ator mais velho em cena, o que corrobora para dar credibilidade ao jurado n.8, interpretado de forma magistral por Norival Rizzo. Genézio de Barros, como jurado n.3 e Riba Carlovich como jurado n.10 são os mais reticentes em relação à inocência do garoto e a todo instante apresentam um tom exaltado, raivoso. E ao final do espetáculo descobrimos porque o jurado n.3 se revela o principal antagonista do jurado n.8.

Os jurados 7 e 12 pouco se importam com o destino do garoto, o primeiro só quer que todos concordem logo na inocência ou culpabilidade porque quer logo ir embora dali para assistir a um jogo de baseball, ao passo que o segundo vê na ocasião uma possibilidade de fazer marketing para vender seus produtos.

Nesse embate de palavras entre pessoas das mais diferentes formações, idades e classes sociais é o exercício de plena democracia que predomina, visto que a palavra é dada a todos, e todos têm a chance de expor e manifestar seus pontos-de-vista e persuadir seus semelhantes acerca de suas verdades.

Completam elenco Brian Penido Ross – jurado 1; Ricardo Dantas – jurado 2; Oswaldo Mendes – jurado 4; Augusto César – jurado 5; Marcelo Pacífico – jurado 6; André Garolli – jurado 7; Eduardo Semerjian – jurado 11; Ivo Muller – jurado 12 e Fernando Medeiros – oficial.

Juliano Vieira

Nenhum comentário:

Postar um comentário