segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

O GOLPISTA DO ANO: Drama ou comédia?





O filme I Love you Philip Morris, traduzido aqui no Brasil para O golpista do ano, talvez possa ser considerado a película mais polêmica que estreou no ano passado no que concerne ao cinema de entretenimento.

Sob direção de Glen Ficararra e John Requa, o filme conta a história de Steven Russel, interpretado por Jim Carrey e seus inúmeros crimes de estelionato, ou popularmente falando, golpes que ele pratica para levar uma vida confortável e plena de luxos. Daí talvez decorra o fato de o título em português ser O golpista do ano.

Steven Russel é um cidadão exemplar, casado, tem uma filha e trabalha para como policial no estado norte-americano do Texas. Nem bem passa vinte minutos de projeção e descobrimos que Steven apenas se tornou policial para tentar localizar o paradeiro de sua verdadeira mãe que o entregou à adoção quando ele ainda era uma criança.

Ao descobrir o paradeiro de sua mãe biológica e ir ao encontro dela, Steven é novamente rejeitado. Sai então em disparada com o carro e sofre um grave acidente que mudará o rumo de sua vida. A partir desse momento, em pequenos flashes-backs, temos a revelação de que Steven é gay e que toda sua vida até ali fora uma mentira.

Após se recuperar do trauma do acidente, Steven resolve assumir quase que publicamente sua nova condição e para isso se separa da mulher e assume que agora quer ser feliz para que possa viver a sua verdadeira vida... a de homossexual.

Mas não é bem isso o que acontece. Para arcar com os altos-custos que a vida de gay ocasiona, Steven passa a aplicar pequenos golpes que o levarão à prisão. Lá, ele conhece Philip Morris, interpretado por Ewan McGregor, e uma paixão avassaladora se instaura entre os dois.

Steven sai da prisão e continua dando golpes. Dessa vez, assume até mesmo a identidade de um falso advogado para libertar Philip do cárcere e assim poderem viver juntos. Quando finalmente consegue a liberdade de Philip, Steven passa a trabalhar numa empresa multinacional como diretor financeiro. E como podemos já supor, não demora muito para que comece a desviar o dinheiro para uma conta-corrente particular. O problema é que a tal conta particular foi aberta em nome de Philip Morris sem que este soubesse, e assim não tarda para que os dois acabam novamente retornem para trás das grades.

O interessante de todo este enredo é que, por mais absurdo que pareça ser, é uma história baseada em fatos reais, e talvez em virtude disso é que muitas das polêmicas tenham sido gestadas.

Muitos a que assistiram ao filme pode ser que não tenham gostado devido ao fato de ser baseado em uma história real dramática e o filme assumir claramente feições de comédia escrachada com tons extremamente caricatos do homossexualismo masculino.

Como o filme trata de uma questão ainda tabu em nossa sociedade, por mais que as pessoas digam não serem preconceituosas, elas ainda não estão habituadas a uma temática tão delicada e muito menos preparadas para ver na tela uma cena de sexo entre dois homens ou até mesmo ver os inúmeros beijos gays trocados entre Jim Carrey e Ewan McGregor ao longo do filme. E nem precisa ser homofóbico para sair da sala de cinema ao se deparar com cenas como as descritas. Basta ter apego à tradição.

No entanto, vale ressaltar que por mais que haja tons de caricatura e deboche em relação aos homossexuais, a direção do filme é segura e a dupla de atores protagonista bem corajosa ao aceitar interpretar os seus respectivos papéis, o que fazem, aliás, com muita competência.

Ewan McGregor está mais contido em sua composição de gay e, ao mesmo tempo, muito mais afetado e delicado. Já Jim Carrey, apesar de ser um grande ator, como sempre exagera em suas caras e bocas, mas não compromete, e dá até uma leveza num tema considerado para lá de árduo. Também é digna de nota a participação do ator brasileiro Rodrigo Santoro, que apesar de fazer um pequeno papel, é importante para o desenrolar da trama.

Podemos então dizer que o filme retrata um drama pessoal, mas com matizes coloridos, e queira sensibilizar as pessoas não através do choro, das lágrimas, mas sim através do riso, da gargalhada, da alegria.

E quem quiser descobrir o que de fato aconteceu com o verdadeiro Steven Russel... Corra à locadora mais próxima.

Juliano Vieira

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