O curta metragem Ilha das Flores, do diretor gaúcho Jorge Furtado, é um verdadeiro exercício de reflexão sobre o círculo vicioso do sistema capitalista, sobretudo daquele que se convencionou chamar de Capitalismo Selvagem.
O filme, que se pauta por sutis denúncias da monstruosidade desse sistema, que chega ao absurdo de colocar seres humanos em último lugar na escala de prioridades, simplesmente por eles não darem lucros pelo fato de não serem propriedade privada de ninguém, retrata de forma exemplar a animalização das pessoas.
A narração emblemática de Paulo José permite-nos captar as ironias que vão sucessivamente desfilando pelas imagens e a refletir sobre o contraste de como um lugar chamado Ilha das Flores pode ser o oposto daquilo que seu nome sugere.
Em Ilha das Flores, um dos aspectos que mais chamam a atenção é a repetição de que o ser humano tem o teleencéfalo altamente desenvolvido e o polegar opositor, o que lhe propicia a capacidade de raciocínio, embora nem sempre o ser humano use a seu favor... a depender do ponto de vista.
É lícito ainda questionar ao término da projeção do curta-metragem, se as flores da ilha não são os porcos que, bem alimentados, serão abatidos e vendidos para fazer girar o ciclo do capital e retornar na forma de lucro para seus donos.
O filme, em si, é tão bem construído em todas as escolhas, que até a trilha sonora, baseada em O guarani, de Carlos Gomes, ajuda a construir o sentido, ainda mais quando lembramos que esse trecho da ópera se popularizou no programa A voz do Brasil, e aí reside, talvez, a mais fina das ironias, pois, justamente, os moradores da Ilha das Flores não tem voz, nem vez...
Juliano Vieira
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